No fim da manhã deste domingo (3), o presidente Jair Bolsonaro voltou a participar de uma manifestação antidemocrática e inconstitucional em Brasília contra o STF e o Congresso.
Em discurso aos manifestantes, o presidente – num tom de desafio aos demais poderes – pediu a Deus para não ter problemas esta semana porque, segundo afirmou, chegou ao limite. Ele não esclareceu o que isso significa. Manifestantes hostilizaram a imprensa e agrediram com chutes e pontapés a equipe de jornalistas do jornal ‘O Estado de S.Paulo’.
O protesto era contra o Supremo Tribunal Federal, contra o Congresso, dois pilares do sistema democrático, o que torna fora da lei pedidos para que sejam fechados. E também contra o ex-ministro Sergio Moro.
Uma faixa pedia o fechamento do STF. Outra dizia “intervenção militar com Bolsonaro”, o que é considerado apologia contra a democracia e, portanto, ilegal e inconstitucional.
A manifestação começou com uma carreata na Esplanada dos Ministérios e terminou com aglomeração na Praça dos Três Poderes, em frente ao Palácio do Planalto.
Bolsonaro foi até o Palácio do Planalto acompanhado da filha, Laura, e não usou máscara. Transmitiu ao vivo a participação dele em uma rede social.
Ao lado de Bolsonaro, estavam deputados federais, entre eles o filho, Eduardo Bolsonaro. O presidente voltou a criticar o isolamento e medidas restritivas adotadas por governos locais. Orientação que é dada pelos órgãos internacionais de saúde.
Tudo isso no momento em que o Brasil registra a marca de cem mil casos da doença com mais de 7 mil mortes, um número que já ultrapassou o da China e Irã. A Organização Mundial da Saúde e especialistas em saúde pública têm dito que o isolamento social pode achatar a curva de infectados, evitar o colapso do sistema de saúde e, com isso, diminuir o número de mortos. Mas Bolsonaro voltou a repetir que as mortes são inevitáveis.
“Sabemos hoje dos efeitos do vírus, mas infelizmente muitos serão infectados, infelizmente, muitos perderam suas vidas também, mas é uma realidade que teremos que enfrentar”, disse.
Sem citar diretamente a decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, que suspendeu a nomeação de Alexandre Ramagem para a diretoria geral da Polícia Federal, o presidente Jair Bolsonaro disse que não vai mais admitir interferências. Não explicou como.
“Nós queremos o melhor pro nosso país, queremos a independência verdadeira dos Três Poderes e não apenas na letra da Constituição. Não queremos isso. Interferência não vamos admitir mais interferência, acabou a paciência vamos levar esse país pra frente”.
A decisão do ministro Alexandre de Moraes se baseou em análise prévia de provas que indicariam que a nomeação de Ramagem representava um desvio de finalidade, com o objetivo de interferir politicamente em investigações da Polícia Federal.
Na manifestação, Bolsonaro disse que as Forças Armadas estão com ele e que chegou ao limite, que não tem mais conversa, sem explicitar o que isso significa e o que pretende fazer, caso haja novas decisões judiciais sobre atos seus, considerados ilegais.
“Vocês sabem que o povo está conosco, as Forças Armadas – ao lado da lei, da ordem, da democracia e da liberdade – também estão ao nosso lado, e Deus acima de tudo. Vamos tocar o barco. Peço a Deus que não tenhamos problemas nessa semana. Porque chegamos no limite, não tem mais conversa. Tá ok? Daqui para frente, não só exigiremos, faremos cumprir a Constituição. Ela será cumprida a qualquer preço. E ela tem dupla-mão. Não é de uma mão de um lado só não. Amanhã nomeamos novo diretor da PF”, disse.